“O presente abre o caminho para aquele que o entrega e o conduz à presença dos grandes.” Provérbios 18:16
O conceito do sacerdócio de todos os crentes foi uma das grandes verdades bíblicas resgatadas pela reforma protestante do século XVI.
No cerne desta questão estão dois propósitos muito importantes:
(1) o propósito devocional do sacerdócio de todos os crentes, que é a preocupação de devolver a cada cristão, seu direito adquirido pelo preço do sacrifício de Jesus, de ter acesso direto ao Pai (sacerdócio) para ter comunhão com Ele sem a necessidade de um sacerdote humano.
(2) O propósito funcional em que cada cristão é chamado a ministrar (ter um ministério ou sacerdócio) como servo em funções designadas por Deus mediante a distribuição dos dons espirituais.
Sacerdócio e ministério de todos os crentes
Encontramos, portanto, dois aspectos relacionados com o conceito de sacerdócio de todos os crentes: o aspecto devocional e o aspecto funcional.
Apenas para efeito didático nos referiremos ao aspecto devocional com a palavra sacerdócio e ao aspecto funcional com a palavra ministério.
Sacerdócio como vocação devocional é a responsabilidade que cabe a cada cristão de ministrar em seu próprio favor e por sua família no esforço de se colocar na presença de Deus diariamente para receber dEle o suprimento necessário de graça e poder para enfrentar as demandas da vida.
“Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado” (Hb 10:11).
Este sacerdócio é o serviço religioso que toda pessoa convertida precisa fazer em seu próprio favor, indo ao encontro de Deus e mantendo comunhão com Ele.
A ideia de um sacerdócio universal implica que todo crente foi chamado para algum tipo de ministério e é capacitado pelo Espírito.
Todo sacerdote é ungido para oficiar. De igual modo o crente é capacitado para ministrar.
Ninguém recebe o dom apenas para a satisfação pessoal.
Tal sacerdócio não acontece em termos egoístas, mas desdobra-se em favor de outros, ministra intercedendo em benefício daqueles com quem temos contato: família, amigos, conhecidos; desconhecidos, mas em primeiro plano cabe a cada membro do corpo de Cristo ministrar por si mesmo.
O autor de Hebreus 10: 19-22 exorta você a entrar no Santo dos Santos e fazê-lo com ousadia.
Essa linguagem seria muito estranha para um judeu do primeiro século pois ele sabia que somente o Sumo-sacerdote poderia fazer esse percurso até o Santíssimo do santuário terrestre, mas Paulo afirma que Jesus abriu um novo e vivo caminho através do véu, pelo Seu sangue e carne.
Ele conclui o convite (v.21, 22) dizendo que “temos um grande sacerdote sobre a casa de Deus” e assim estabelece as bases da confiança que propõe a seus leitores.
O sacerdócio de Jesus no santuário celestial (Hb 6:19,20) dá garantias para o nosso sacerdócio terrestre, portanto podemos chegar “com confiança junto ao trono da graça” (Hb 4:16).
Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.
Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois, quem fez a promessa é fiel.
A mensagem do sacerdócio de todos os crentes afirma que, cada cristão é convidado a se aproximar de Deus por si mesmo e deve fazê-lo diariamente se quer obter o poder e a capacitação espiritual para sustentar um ministério efetivo.
Depois de atuar no sentido de ir e se colocar na presença de Deus, sem intermediário humano, para receber a porção de poder e sabedoria para cada dia, o sacerdócio a que cada crente é chamado a desempenhar, se vale dos dons espirituais disponibilizados pelo Espírito Santo para exercer seu aspecto funcional atuando dinamicamente em favor dos interesses do reino de Deus.
Ministério de todos os crentes.
Ministério de todos os crentes também pode ser visto como função ou o serviço de fortalecer o corpo de Cristo mediante a atuação em uma tarefa que o edifique e como a missão de comunicar a mensagem de Deus ao próximo, ministrando a este através dos dons espirituais. Neste sentido ministério de todos os crentes é a vocação funcional que cabe a cada cristão para operar em favor da igreja, para sua edificação, e em favor dos sem-igreja, para sua salvação.
Compreender essa sutil, mas relevante diferença entre os dois aspectos da verdade do sacerdócio de todos os crentes, ampliará a nossa visão da grandiosidade do plano de Deus para cada um de nós.
Somos sacerdotes e ministros do reino de Deus, chamados para oficiar em nosso favor, em favor da nossa família, da igreja e dos perdidos.
Esse chamado é universal, pois a todos é dirigido, e cada cristão precisa compreender que ao aceitar os benefícios da graça precisa se submeter ao chamado para o ministério sacerdotal no reino de Deus, o qual também é concedido pela graça.
O reino de Deus restaurado será reino de sacerdotes, não de cidadãos comuns, e, todo aquele que almeja ser contado entre os remidos, precisa assumir seu papel sacerdotal aqui mesmo enquanto cidadão desta Terra.
Precisa adquirir experiência em ministrar no corpo de Cristo em funções que o edifiquem, precisa atuar diariamente como sacerdote de si mesmo e de sua família entrando com intrepidez no santo dos santos (Hb 10:19), junto ao trono da graça (Hb 4:16).
Colaboradores na igreja orientados pelos dons
O conceito dos colaboradores orientados pelos dons não é uma invenção humana.
Não é simplesmente uma estratégia para potencializar os recursos humanos de qualquer instituição, mas é o método determinado pela soberania de Deus para aperfeiçoar os crentes, edificar a igreja e desenvolver ministérios eficazes (Ef 4.1-14).
Quando descobrirmos o arcabouço de dons que estão latentes dentro da igreja, estaremos muito perto de saber qual o plano de Deus para ela, porque na base de dons que uma igreja tem, podem-se identificar os propósitos de Deus para ela.
Os dons revelam muitas coisas, inclusive a vontade de Deus para as pessoas e para as igrejas.
Quem determina que direção devemos tomar é o Espírito Santo, e descobrimos isso quando compreendemos de que maneira Ele distribuiu os dons dentro de nós.
Descobriremos pessoas com dons afins ou relacionados e assim, teremos as equipes de ministérios também formadas, naturalmente, pelo Espírito Santo.
Apoiando essas pessoas fomentaremos a formação de poderosas equipes de trabalho. Essas pessoas precisarão compreender a grandeza desse chamado.
Se tiverem algum problema de relacionamento, por exemplo, precisarão se reconciliar, pois compreenderão que foi o Espírito Santo quem as chamou para trabalharem juntas, e serão estimuladas a evitar que desavenças pessoais as impeça de trabalhar ao lado de alguém que o Espírito Santo determinou que trabalhassem.
Os ministérios orientados segundo os dons, associado a estratégias que já estão dando resultado, enfrentará vários problemas que orbitam na igreja.
Normalmente damos prioridade à afinidade para formar equipes de trabalho, pequenos grupos e comissões.
Entretanto, com os ministérios orientados segundo os dons compreenderemos que se João e Pedro não têm afinidade relacional, mas têm dons afins, eles terão que trabalhar na mesma equipe de ministérios.
Eles trabalharão juntos, pois descobrirão que esta é a vontade do Espírito Santo, O qual distribuiu os dons desta maneira.
Um preço precisa ser pago
Quando o princípio da colaboração orientada pelos dons for levado a sério teremos a coragem de deixar algumas tarefas sem ser feitas por não haver pessoas disponíveis com o dom correspondente.
Buscaremos a Deus em oração, pela dotação espiritual adequada. Suplicaremos Sua benção, com humildade, individual e coletivamente, e então veremos um processo de crescimento e de amadurecimento se configurando na igreja até que ela chegue ao ponto de realizar mais tarefas do que antes.
Nossa maior preocupação não será realizar as tarefas que todos acham que precisam ser feitas, mas as que correspondam à vontade de Deus, “afinal, foi Ele que nos deu os dons espirituais com o objetivo de nos mostrar onde Ele espera o nosso serviço. Por isso Ele dá a Sua bênção quando nos engajamos nesses lugares.”
Depois de um sólido programa de identificação dos dons, uma pessoa que está atuando na igreja numa área que não está em harmonia com seus dons espirituais deveria ser liberada dessa atividade e encaminhada àquela que estiver de acordo com eles.
Não fazemos favor a ninguém deixando que consuma os preciosos anos de sua vida num ministério para o qual não foi chamado, cuja prova é a ausência dos dons necessários para o desenvolvimento de tal tarefa.
Essa pessoa, a sua equipe e a igreja de um modo geral, sofrerão enquanto tal situação for mantida.
Não deveríamos ter medo de agir com sensibilidade e tato para colocar a igreja e seus colaboradores em harmonia com o plano de Deus para eles, em relação aos ministérios orientados pelos dons.
“Nós acreditamos no ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes. Também aceitamos que cada crente é um ministro de Cristo – tal como o é um pastor – chamado por Deus para O servir de acordo com os dons e capacidades que ele lhes deu”.
Se for assim, ainda mais, precisamos agir fielmente às nossas crenças.
Mitos desmoronam com os ministérios orientados pelos dons:
Alguns mitos relacionados com o ministério dos crentes ruem naturalmente quando a igreja é orientada a atuar em harmonia com os dons espirituais disponibilizados para seus membros.
Vejamos três deles:
(1) “O púlpito da igreja é o principal cenário para o exercício e desempenho dos dons e ministérios”.
(2) “Só posso estar satisfeito com meu trabalho pela igreja se eu estiver lá na frente da congregação desempenhando algum papel que possa ser notado por todos.”
(3) “Os dons espirituais mais importantes ou de primeira categoria são aqueles que são exercidos diante do povo.”
Esses mitos estão bem relacionados, embora cada um deles têm nuances diferentes.
O altar da igreja é um dos locais onde os ministérios são desenvolvidos, mas não é o único nem o principal.
O principal lugar onde o membro deve desempenhar o seu ministério é onde ele está inserido por mais tempo, com mais frequência: em casa, no local de trabalho, na vizinhança.
Nesse sentido é que, cada cristão é chamado a exercer um ministério de tempo integral, pois não apenas na igreja durante os cultos de celebração, mas em toda a sua existência, e em qualquer lugar, sem exceção, deve o crente ministrar, ou seja, atuar em favor dos interesses do reino de Deus em harmonia com seus dons espirituais.
O ministério leigo acontece não só na igreja, mas também e principalmente – no mundo.
Os membros precisam começar a ver que o seu ministério para Cristo pode ter lugar na segunda-feira de manhã, no escritório, em vez de no Sábado de manhã na igreja.
Outro mito cai diante da satisfação que diversos cristãos têm sentido em exercer seus dons e ministérios fora do templo e até no anonimato.
Há muito mais que fazer na vastidão do mundo em agonia e sofrimento do que na harmonia e tranquilidade da nave da igreja.
Aqueles poucos metros quadrados do altar da igreja não são, absolutamente, o campo missionário e ministerial de todos os crentes.
Há muito mais do que isto esperando por você e por mim.
A exemplo disso podemos citar os tremendos resultados da atuação desprendida de diversos cristãos com os dons de ajuda, hospitalidade, missionário, ensino, liderança, entre outros.
David Cox escreveu com muita propriedade que “para muitas congregações, o edifício da igreja tornou-se o centro do ministério, porque é aí que a maioria dos programas e dos serviços têm lugar”.
Uma vez implantado este modelo, acrescenta Cox: “no que respeita ao ministério, entanto, o fato é que os leigos tendem a ser espectadores, não ministros, nessas reuniões”.
Dizendo de outra forma, em termos de espaço o cenário de atuação dos ministérios orientados segundo os dons é a vida do cristão.
“O ministério leigo envolve toda a vida do cristão. O ministério não se limita ao edifício da igreja ou às horas sagradas do Sábado”. A dimensão desse espaço onde o ministério deve ser realizado não se limita a alguns metros quadrado do púlpito, do altar ou de alguma sala da igreja, ele se expande ao espaço “ilimitado” do raio de ação de cada pessoa. Nesse espaço muito mais amplo, é onde cada cristão é chamado para desempenhar seu ministério, para atuar como sacerdote real, este é o nosso campo missionário.
“Para muitas congregações, o edifício da igreja tornou-se o centro do ministério, porque é aí que a maioria dos programas e dos serviços têm lugar… No que respeita ao ministério, entanto, o fato é que os leigos tendem a ser espectadores, não ministros, nessas reuniões […]”.
E acrescenta: “É evidente que precisamos mudar o modo como ministramos ao nível da igreja local, se é que queremos realmente liberar o imenso potencial dos leigos para o ministério”.
As igrejas adventistas se reúnem para celebrar nos templos e nas casas, em média oito das cento e sessenta e oito horas de uma semana.
Isso representa uma proporção de apenas cinco por cento da semana no convívio da igreja; assim em termos de tempo, nosso ministério também não se limita aos curtos períodos que temos por semana para passar dentro da igreja, mas se expande à toda nossa vida ativa como ministros de tempo integral.
Essa é a dimensão do desenvolvimento do seu ministério e da aplicação dos seus dons.
A liderança da igreja precisará se mobilizar para organizá-la em direção desta realidade.
Implantar os ministérios orientados segundo os dons deve ser um propósito de cada igreja que quer sinceramente reviver os gloriosos anos de crescimento numérico e espiritual da igreja primitiva.
O tempo médio necessário para que uma igreja esteja atuando satisfatoriamente em ministérios orientados pelos dons é de cerca de 12 a 18meses.
Esse tempo é necessário para levá-la à maturidade e à vivência desta nova realidade. Precisamos começar agora, valerá a pena.
O Ministério é de todos os crentes não apenas do pastor
Ao invés do pastor ser o único a atuar no cuidado das pessoas, no desenvolvimento de ministérios e na solução de conflitos, além de ter que tomar sérias decisões relacionadas com a administração da igreja, tais tarefas devem ser distribuídas entre todos os membros envolvendo-os no ministério, no sacerdócio de todos os crentes.
O cuidado e o trabalho não devem ser realizados pelo pastor da igreja, mas pelos outros membros.
A ideia de contratar alguém para prover o cuidado pareceria absurda para Paulo.
Ele a declararia uma heresia e o abandono da essência do cristianismo que Jesus estabeleceu.
O cuidado mútuo dos membros é uma função do corpo, não algo que se contrate.
Estar em Cristo é ser parte de uma comunidade onde membros cuidam uns dos outros.
Todas as passagens do Novo Testamento que tratam do cuidado dos cristãos são sempre dirigidas ao corpo todo, nunca a uma pessoa contratada.
Precisamos acreditar que compartilhar responsabilidades com membros focados em seus ministérios baseados nos dons, será uma tarefa muito mais fácil, dinâmica e gratificante, pois eles, de posse de seus dons, estarão motivados pelo Espírito Santo.
Quero fazer uso das palavras do teólogo do crescimento de igreja Christian Schwarz:
Nenhuma outra das oito marcas de qualidade tem influência tão grande sobre a vida pessoal e a vida na igreja do membro, do que a questão da adequação dos dons.
[…] O uso dos dons espirituais são a única possibilidade de colocarmos em prática novamente o conceito dos reformadores do ‘sacerdócio universal dos crentes’.
Outra declaração relevante afirma que:
O ministério orientado pelos dons é a arte de colocar as pessoas certas nos lugares certos, pelos motivos certos para conseguir os melhores resultados.
Isso faz a pessoa se sentir mais motivada e dependente do Espírito, produzindo crescimento espiritual e corporativo.
Antes mesmo que a igreja mobilize uma campanha em direção dos ministérios de todos os crentes baseados nos dons espirituais, faça a sua parte.
Facilite as coisas para os líderes, busque com zelo conhecer seus dons espirituais e assume seu lugar no corpo de Cristo.
Ao invés de ser um reagente seja um agente promotor deste movimento de retorno ao ideal de Deus para Seu povo.
Edinaldo Juarez
Pastor/Psicólogo
@pr.psi.edinaldojuarez
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