“Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros.” – 1 Pedro 4:10
A carta aos Efésios, escrita pelo apóstolo Paulo, apresenta ricos ensinamentos sobre a natureza e a missão da igreja. Nela, Cristo é descrito como o esposo da igreja, a figura central que garante sua unidade. Esta relação é aprofundada também nos escritos de Ellen G. White.
No livro de Efésios, Paulo descreve a igreja como a noiva de Cristo. Em Efésios 5:25-27, encontramos a instrução: “Maridos, amai vossas esposas, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Aqui, Cristo é apresentado como o esposo sacrificial, disposto a dar sua vida em prol do bem-estar e da santificação da igreja.
A metáfora do casamento é frequentemente usada para descrever a relação de Cristo com sua igreja. Cristo se entrega de maneira completa e em amor à igreja, simbolizando a aliança inquebrável e o compromisso eterno com Sua noiva. Esta concepção reforça a ideia de um amor abnegado e purificador.
Cristo, o Esposo
Além de iluminar o papel conciliador dos maridos em relação à sua família e do cristão em relação à igreja, há um terceiro aspecto relevante: Quem é apresentado na Bíblia como o esposo da igreja?
2 Coríntios 11:2 diz: “Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo”.
Como Esposo da igreja, o Senhor Jesus vai trabalhar duro, esforçando-se diligentemente para manter a igreja unida pelo Espírito no vínculo da paz. Esse também é um aspecto do Seu ministério do qual Ele pagou um preço muito alto para “apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem macula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5:27).
Em Romanos 5:11 é dito: “também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação”. Ele orou por isso e ninguém deveria duvidar da uma tremenda verdade de que Jesus irá unir as partes do Seu Corpo cujas feridas provocaram separação!
Ele vai cumprir Seu ministério, Sua missão, e nós não podemos ser entraves a isso, não podemos trabalhar contra Cristo, mas a favor dEle, pois Ele mesmo disse: “Quem não é por Mim é contra Mim, e quem Comigo não ajunta, espalha” (Mt 12:30).
“Se realizamos apenas um terço daquilo que nossos talentos nos permitiriam, os outros dois terços estarão trabalhando contra Cristo”¹.
Assim, é certo que Ele irá curar as feridas de Seu corpo causadas pela desunião entre aqueles que deveriam estar ligados por fortes laços de amor e união. Duas figuras repletas de significado para a igreja de Cristo.
Aqui cabe um sério aviso: é temerário estarmos contra Cristo em Sua obra de promover a unidade da igreja.
“Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade” (Ef 2:14-16).
Não podemos estar entre aqueles que estão ferindo o corpo de Cristo e agredindo Sua noiva. Pelo contrário temos que ser husband na igreja junto com Ele. Elementos de ligamento, de união, levando cura para as feridas causadas pela desunião, juntando as partes separadas pelas feridas.
A palavra traduzida no final do verso três por paz é ειρηνης [eirenes] e também tem o sentido de harmonia e ordem, significando que os membros do corpo de Cristo precisam coexistir e atuar em perfeita harmonia, paz e ordem.
O termo bond ou band aparece como sufixo inglês ao nome que traduzimos para esposo ou marido: husband. Sua origem etimológica é: house-band.
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House – casa;
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band – elemento de união, significando aquele que une a sua casa.
Não há aqui um apelo e chamado para que cumpramos nosso papel conciliador no ambiente familiar? O vínculo da paz que precisa ser fortalecido na igreja deve acontecer primeiro no ambiente da família, porque famílias fortes é que formam igrejas fortes. A igreja sofre grande influência daquilo que são as famílias que a compõem.
“No lar é posto o fundamento da prosperidade da igreja. As influências que regem a vida no lar são levadas para a vida da igreja; portanto os deveres eclesiásticos devem começar no lar”. ²
Cristo e a Santificação da Igreja
Efésios 5:26-27 fala sobre Cristo purificando a igreja “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula”. Este processo de santificação é central para a unidade da igreja, pois os crentes são chamados a refletir o caráter de Cristo. A santificação é um processo contínuo de transformação à semelhança de Cristo.
Em “Caminho a Cristo”, ela destaca que é através do relacionamento pessoal com Jesus que os membros da igreja se purificam e se unem como um corpo santificado.
Cristo como esposo da igreja é um tema central tanto na carta aos Efésios quanto nos escritos de Ellen White. Ele é o fundamento da unidade e santificação da igreja, operando através de amor sacrificial e liderança espiritual. A compreensão desta relação fortalece a fé dos crentes e os une em missão e propósito, refletindo o caráter divino de Cristo.
A Unidade da Igreja através de Cristo
Em Efésios 4:3-6, Paulo fala sobre a unidade do Espírito e enfatiza que há “um só corpo e um só Espírito”. Cristo, como cabeça da igreja, é a fonte dessa unidade. Sua liderança e amor são a cola que mantém os crentes unidos. A unidade entre os crentes só pode ser alcançada através da submissão a Cristo. A verdadeira unidade na igreja é obra do Espírito Santo que, ao exaltar a Cristo, une OS seguidores em propósito e missão.
A Unidade da totalidade
Em Efésios 4:4 lemos: “há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação”. Traz à tona o ideal da unidade corporativa da igreja: apresenta o Espírito Santo como agente. O promotor dessa unidade e aponta para a esperança única dos cristãos alcançarem a sua vocação.
Deus está guiando um povo do mundo para a exaltada plataforma da verdade eterna os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Disciplinará e habilitará Seu povo. Eles não estarão em divergência, um crendo uma coisa e outro tendo fé e opiniões inteiramente opostas, e movendo-se cada qual independentemente do conjunto. Pela diversidade dos dons e governos que Ele pôs em Sua igreja, todos alcançarão a unidade da fé.³
A palavra unidade ενοτητα [enoteta] – unidade, todo, conjunto já havia aparecido no verso três como sendo o objeto que deve ser preservado mediante o esforço diligente de cada membro do corpo de Cristo. Agora aparece a base para esta proposta de unidade: um corpo, um Espírito, uma só esperança.
Os versos seguintes tratam da unidade e da diversidade na igreja. Também apresentam a Divindade atuando em meio a tudo isso sugerindo que a relação harmônica da Trindade seja uma inspiração para o relacionamento entre os membros do corpo de Cristo: “um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4:5,6).
O Senhor aqui apresentado é o Senhor Jesus Cristo que é confirmado com o uso termo kurios [κψριοσ].
No verso seis (Ef 4:6) Deus, o Pai é enfatizado: “um só Deus e Pai de todos…” completando o quadro do envolvimento da divindade no ambiente de diversidade da igreja com o propósito de levá-la à unidade. Lembrando que para a unidade se tornar uma realidade na igreja não é necessário eliminar a sua diversidade. Ambas as experiências são importantes e podem conviver harmonicamente sem que uma anule a outra.
“É necessário que nossa unidade hoje seja de caráter tal que resista à prova… Temos muitas lições para aprender e muitíssimas para desaprender. Tão-somente Deus e o Céu são infalíveis. Quem acha que nunca terá de abandonar uma opinião formada, e nunca terá ocasião de mudar de critério, será decepcionado. Enquanto nos apegarmos obstinadamente às nossas próprias ideias e opiniões, não poderemos ter a unidade pela qual Cristo orou.” 5
Estamos visualizando um quadro de unidade na totalidade. Toda a Divindade envolvida numa obra de promover plena unidade no mundo a partir da igreja.
O dom de Cristo
A graça de Deus aparece no verso sete, aquela mesma que salva do pecado e capacita com os dons espirituais. A graça χαρις [charis] que está relacionada com os dons χαρισματα [charismata]: “e a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo.”
A palavra dom neste verso é δωρεάς [dwreas] e está relacionada com o dom de Cristo e não com os dons concedidos pelo Espírito Santo. Significa doação, dádiva, prenda, presente ou legado.
Mediante a encarnação, vida e morte, Ele conquistou os méritos necessários para conceder dons aos homens, não apenas dons espirituais como os descritos na sequência (v. 11), mas Ele mesmo foi O maior de todos os dons já outorgados à raça caída.
Cristo cumpriu uma penosa e vitoriosa trajetória para conquistar a nossa redenção do pecado e da inutilidade a fim de nos tornar relevantes para o reino da graça e aptos para o reino da glória. “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas” (Ef 4:10).
Para sermos atuantes no reino da graça, Ele nos capacita com OS dons espirituais e para o reino da glória com o dom de seus méritos. A ascensão de Cristo (vs. 8-10) se deu inicialmente como uma confirmação de sua vitória sobre o cativeiro do pecado. E finalmente como o desdobramento do plano da redenção que contempla a fase de intercessão no santuário celestial, para onde Ele foi depois de ter consumado Seu ministério terrestre (At 1.9; Hb 4.14; 9.24).
O Salmo 68.18 é citado em Efésios 4:8 que traz outra palavra quanto aos “dons aos homens” que Cristo deu: [dwmata] δοματα.
O mesmo que subiu ao céu; “ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes” (1Pe 3:22) foi também o mesmo que “desceu às partes mais baixas da terra” (Ef 4.9) para cumprir todas as coisas (v.10) relacionadas ao plano da redenção e assim poder distribuir os mais diversos dons aos homens.
Jesus também é agente distribuidor de dons espirituais e o faz com base em Sua graça, “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4:11).
Os versículos 12-16 apresentam o propósito de Deus ao conceder dons aos homens:
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O aperfeiçoamento dos santos;
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O desempenho de ministérios;
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A edificação do corpo de Cristo;
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A unidade da fé;
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O pleno conhecimento do filho de Deus;
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A perfeita varonilidade (maturidade espiritual);
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À estatura da plenitude de Cristo;
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Vitória sobre a inconstância e volubilidade típicas das crianças;
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Uma vida de constante crescimento em Cristo;
Esse é o principal plano de Deus para cada um de nós: que cumpramos nossos ministérios em Sua igreja. Antes de buscarmos nosso ministério pessoal precisamos nos encontrar com o nosso ministério corporativo, aquele que é compartilhado com todos os filhos de Deus nascidos de novo: o ministério da reconciliação.
Não poderemos avançar para conquistar outros níveis ministeriais, outras realizações do Senhor em nossa vida sem primeiro experimentar por completo este que é na essência, o ministério universal de todos os crentes. Cada um de nós precisa ter a certeza de estar em harmonia com a ordem de Deus através do apostolo Paulo: “o quanto depender de vós tende paz com todos os homens” (Rm 12:18).
Se, fomos chamados para sermos ministros da reconciliação, da unidade e da harmonia no corpo de Cristo, como poderíamos aceitar qualquer coisa inferior a isto? Este é um importante aspecto do propósito de Deus para você. Este é o seu ministério inicial, que se bem cumprido abrirá portas para muitos outros.
Os dons espirituais estão disponíveis para os filhos de Deus cumprirem o propósito dAquele que os resgatou do pecado para a nova vida. É mediante esses dons em ação que alcançaremos a maturidade à estatura de Cristo e veremos maravilhas acontecendo em nossa vida pessoal, igreja e ministério.
Precisamos encarar o tema da desunião com humildade e com disposição, pois estamos lidando com um problema que atinge quase a totalidade do corpo de Cristo. Todos nós precisamos de ajuda nessa área. Neste pormenor, ninguém está habilitado para se sentar na cadeira de mero expectador. Com certeza Deus quer nos abençoar nesta área também.
Permita que o Espírito Santo opere esta obra em você. Experimente o poder, o fruto e os dons do Espírito no contexto do serviço, do ministério cristão. Comece sendo fiel ao ministério da reconciliação e o mundo verá o que Deus pode fazer com uma vida que se entrega e se consagra sem reservas a Ele.
Referências
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Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), v.6, p. 439.
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Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 318. Vida e Ensino (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 201.
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Maria P. F. Moniatoglou, Dicionário Grego-Português Português-Grego (Porto, Portugal: Porto Editora, 2004), 296.
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Ellen G. White, 203.
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Idem, 261.


