Dons, Ministérios e Discipulado

Equipe ministerial é um grupo de membros unidos pela afinidade dos dons espirituais, motivados pelos mesmos objetivos e focados na obtenção dos mesmos resultados. Multiplicar equipes de ministério facilitará a atuação dos membros. Mesmo atuando sobre a estrutura de departamentos precisamos fazer uso do conceito de equipes de ministérios. Nelas o comprometimento é mais evidente, os relacionamentos são mais estreitos e “uma equipe multiplica a probabilidade de realizar nossos sonhos com eficácia e alegria. Em equipe somos amparados, fortalecidos, encorajados e mais produtivos”¹.

Com o correto conceito de equipes de ministérios trabalharemos com a afinidade relacional para fortalecer a ideia da afinidade ministerial. Neste paradigma a soberania do Espírito define com quem eu formo uma equipe e devo trabalhar para Deus.

O programa de implantação de MOD revelará, entre outras coisas, que existem alguns membros na mesma igreja que possuem os mesmos dons ou dons relacionados. Estes membros formarão equipes de ministérios que, uma vez organizadas, poderão fazer um bonito trabalho usando conjuntamente seus dons. O mais interessante nisso é que podemos ter a certeza de que foi o Espírito Santo que, ao distribuir os dons em sua igreja, formou estas equipes. Elas não surgiram por imposição, por capricho ou por decreto. Estão lá porque Deus as colocou com um propósito.

Trabalhar pela identificação dessas equipes, dar apoio à sua formação e capacitar os membros envolvidos para o desempenho de seus ministérios será a prioridade do líder de igreja que quer vivenciar um ambiente enriquecido com “múltiplas equipes de ministério e estruturas que facilitam a participação dos membros”².

Essa poderia ser uma das prioridades da liderança da igreja: formar equipes ministeriais compostas por membros que encontraram seu dom e lugar no corpo de Cristo. Isso nos ajudaria a selecionar “naturalmente’ aquilo que deveria ocupar a agenda da igreja local em termos de programas, eventos e mobilização para fortalecer as estruturas que temos.

“Se você quer que sua igreja venha a impressionar o mundo, precisa dar importância ao que é realmente essencial. […] A maioria das igrejas tenta fazer coisas demais. Isto é uma das barreiras que são ignoradas ao se construir uma igreja sadia. Nós simplesmente cansamos o povo.”³

A principal meta de uma estrutura montada sobre equipes ministeriais é o cumprimento da grande comissão, o fortalecimento dos ministérios da igreja e o engajamento das pessoas envolvidas evitando assim que elas se enfraqueçam espiritualmente e se afastem do convívio e do trabalho da igreja.

Os dons espirituais e a grande comissão

Seria a pregação do evangelho, responsabilidade exclusiva de quem tem certos dons relacionados com a obra de evangelização? O pastor, o evangelista, o professor, o pregador, o obreiro bíblico deveriam dividir entre eles toda a tarefa descrita na grande comissão de ir, fazer discípulos e pregar o evangelho? Todos devem saber que a ordem de Deus para cada cristão é: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.” (1Tm 4:14). Isto significa que “Deus deseja que cada membro da igreja trabalhe como se fosse Sua mão ajudadora, buscando, mediante ministério de amor, ganhar almas para Cristo”⁴.

Quando todo o arcabouço dos dons espirituais manifestos em uma igreja é analisado percebe-se uma convergência natural em direção aos ministérios relacionados com a obra de evangelismo, a pregação e a conclusão da grande comissão dada por Cristo (Mt 28.19, 20). Isso se dá porque do ponto de vista de Deus e no contexto do plano da redenção alcançar o mundo com a mensagem do evangelho e prepará-lo para o encontro com o Cristo vindouro é prioridade máxima em Seus propósitos com este planeta.

Sendo assim, os dons espirituais, bem como todas as estruturas, estratégias e instrumentos de mobilização da igreja devem apoiar este objetivo final, se ela se sente responsável pela conclusão da obra.

O chamado para evangelizar é para todos. Na igreja do Novo Testamento os discípulos, os evangelistas e apóstolos eram todos comprometidos com a missão de pregar a mensagem de salvação que há em Jesus Cristo. Os apóstolos eram também evangelistas e esperavam a mesma coisa dos seus colaboradores (1Tm 4:5; At 21:8).

Em lugar algum as Escrituras afirmam que somente aqueles que têm o cargo de evangelista ou o dom espiritual do evangelismo devam esforçar-se para ganhar almas para o Senhor. Todo dom do Espírito conduz a essa abençoada atividade, direta ou indiretamente. Todo aquele que recebe o Espírito Santo e nasce de novo é chamado a ser testemunha de Jesus Cristo e deve evangelizar, portanto ninguém precisa de um dom espiritual específico para fazer a sua parte na grande comissão. “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário. Assim que vem a conhecer o Salvador, deseja pôr os outros em contato com Ele”⁵.

Assim, se evangelização fosse um dom espiritual, seria o dom universal de evangelismo, ou seja, todos os cristãos o teriam. A realidade é que cada pessoa pode fazer sua parte na grande obra de evangelizar o mundo dando as cores de seus dons a essa tarefa. Ninguém é obrigado a evangelizar do mesmo modo que o outro. Nossos dons espirituais permitirão que utilizemos os métodos mais adequados à capacitação que recebemos do Espírito Santo. Uns evangelizarão com o dom da amizade fazendo amigos para Cristo, outros com o dom da hospitalidade ou da ajuda conquistarão vidas para o reino de Deus, já outros com a pregação e o ensino encaminharão pessoas para o conhecimento a verdade que liberta. Cada um com o seu dom poderá fazer uma parte na grande tarefa evangelística e assim abreviar a volta de Jesus.

A responsabilidade corporativa da pregação do evangelho vem afunilando as ações da igreja no sentido de alcançar, sensibilizar e comprometer cada membro na missão. Esta verticalização tem sido notada através dos anos nas ênfases que a igreja vem dando a:

  • Grandes eventos (campais): foco em multidões;

  • Evangelismo público: foco em grandes grupos;

  • Pequenos grupos: foco em grupos pequenos;

  • Classes bíblicas: foco em poucas pessoas;

  • Duplas missionárias: foco em dois membros;

  • Dons espirituais do indivíduo: foco em cada membro.

A beleza de tudo isso está no fato de que estas estratégias não são conflitantes, elas podem conviver bem e apoiarem-se mutuamente. Em especial, os dons espirituais e os ministérios dos indivíduos podem oferecer suporte para todas as outras estratégias citadas.

Dom espiritual e função universal

As funções universais são aquelas para as quais todo cristão é chamado a desempenhar e que dispensam a necessidade de um dom espiritual específico. Como exemplo, podemos citar:

  1. Evangelização;

  2. Louvor congregacional;

  3. Adoração;

  4. Amizade;

  5. Demonstrar amor pelos outros;

  6. Ministério da reconciliação;

  7. Beneficência social;

  8. Oração intercessora;

  9. Hospitalidade;

  10. Ajuda.

Embora algumas dessas funções universais sejam citadas como dom espiritual de maneira implícita (oração, hospitalidade, amizade) ou explicita (evangelistas, ajuda) na Bíblia, elas podem ser exercidas no contexto de um membro que não possui o dom espiritual específico, mas realiza uma obra a contento. Embora exista o dom espiritual da hospitalidade, espera-se que todo cristão cultive essa virtude. Também podemos afirmar acerca do dom de evangelista, ajuda, oração, etc. Daqueles que têm o dom espiritual relacionado com alguma função universal, esperar-se-á muito mais pois para isso foram dotados pelo Espírito Santo com um potencial excepcional.

As virtudes cristãs e os dons espirituais que em geral cada um tem serão as ferramentas necessárias para o desempenho de tais funções universais. Embora não sejam necessários dons espirituais específicos para o cumprimento de uma função universal, o conjunto de dons que uma pessoa tenha facilitará a sua tarefa universal.

Dons espirituais no ambiente dos pequenos grupos

No convívio de um pequeno grupo (PG) os membros se sentirão mais estimulados a manifestar seus dons espirituais, embora não seja no encontro do PG propriamente dito que os dons encontrarão maior expressividade. Os pequenos grupos constituem uma oportunidade ideal para que os membros estudem o tema dos dons e dos ministérios a eles relacionados, discutam acerca de sua atuação, encontrem parceiros ministeriais, se organizem para uma ação coordenada e até experimentem o exercício de alguns dons.

Uma estratégia que garantirá excepcionais resultados será formar pequenos grupos a partir de equipes ministeriais. Depois da implantação de Ministérios orientados pelos dons (MOD) e da formação de equipes de ministérios, os membros destas equipes poderiam ser estimulados a formarem grupos pequenos a partir de sua afinidade ministerial e não relacional apenas. Assim, disso teríamos mais um, e provavelmente o mais adequado, critério para a formação de pequenos grupos na igreja: a afinidade funcional dos membros com base em seus dons espirituais.

“Que os Pequenos Grupos caracterizem o estilo de vida da Igreja e funcionem como a base para a comunidade relacional, crescimento espiritual e cumprimento integral da missão, de acordo com os dons.”⁶

A Interseção dos Dons Espirituais e Discipulado

Deus equipa os santos com os dons espirituais, a igreja os equipa com discipulado. Os dons espirituais não são para exaltação pessoal, mas para servir os outros. Bruce Wilkinson, em seus escritos, enfatiza que cada dom tem o intuito de fortalecer outros crentes e levar a igreja a um amadurecimento coletivo. Esta visão reflete a importância comunitária dos dons, onde cada um contribui para o bem comum.

Os dons espirituais e o discipulado são pilares fundamentais na vida cristã e no funcionamento da igreja. Ambos estão profundamente interligados, pois os dons são ferramentas dadas por Deus para edificar a igreja e promover o discipulado. Este texto examina a relação entre dons espirituais e discipulado, fundamentando-se na Bíblia e em autores cristãos renomados.

O conceito evangélico de discipulado do novo converso está mais ligado à sua fase e status de aprendiz dos ensinos da igreja do que ao seu compromisso de buscar preparo adequado para cumprir a comissão evangélica de Cristo. Esse segundo significado é o enfoque que gostaríamos de ver presente na Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Todo programa de discipulado que pretende colocar os membros novos e antigos na condição de um membro produtivo, do ponto de vista dos interesses do reino de Deus, precisará trabalhar em algum de seus estágios com a descoberta dos dons espirituais e o desenvolvimento de ministérios relacionados com eles. Discipular sem lidar com os dons do membro seria como ensinar alguém a pintar sem nunca colocar um pincel em suas mãos. Como ferramentas para o desenvolvimento de ministérios, o conhecimento dos dons espirituais do discipulando facilitarão o trabalho do discipulador. Este poderá atirar no alvo sabendo onde e a que experiências expor o discípulo para favorecer ao seu aprendizado e crescimento.

Falando acerca do sucesso da igreja primitiva Russell Burrill declara que “os novos crentes entravam para a igreja, descobriam seus dons e imediatamente eram colocados no ministério. Por isso a igreja cresceu tão rapidamente”⁷. Todo novo membro deve ser estimulado, apoiado e orientado a descobrir seus dons e se inserir numa equipe de ministério que possa explorar suas capacitações.

Burrill vê o batismo não apenas como cerimônia de purificação do pecado, mas também de ordenação para o ministério. Ele afirma que nas igrejas onde é dada a devida ênfase ao aspecto de entronização ao ministério pelo batismo:

“os novos conversos entram na igreja com o desejo de descobrir o seu lugar no ministério na congregação local. Em consequência, sentem-se entusiasmados com a possibilidade de se unirem a uma classe de dons espirituais. Entram na igreja com a expectativa de deverem envolver-se no ministério”⁸.

Discipular é o trabalho de tornar um membro engajado, produtivo e capaz de gerar outros membros também engajados e produtivos. Este ciclo não acontecerá satisfatoriamente a menos que contemple Os dons espirituais que foram disponibilizados pelo Espírito Santo aos membros.

Jesus fez Seu trabalho de discipulado e deixou para nós um exemplo de atenção focada nas necessidades e características das pessoas. Por isso Ele se dedicou a poucos indivíduos, para dar-lhes o melhor de si mesmo e formar os Seus melhores representantes.

A obra de Cristo compôs-se em grande parte de conversas individuais. Ele tinha em grande apreço o auditório constituído de uma única alma. Daquela alma, saía para milhares o conhecimento recebido.⁹

Discipulado: Chamado ao Crescimento Espiritual

O discipulado é o processo de aprendizado e crescimento na fé cristã, onde os crentes são chamados a seguir e imitar Cristo. O Novo Testamento retrata o discipulado como central ao ministério de Jesus, que investiu tempo em formar seus discípulos. Autores como Dietrich Bonhoeffer, em “Discipulado”, descrevem esse processo como um chamado ao comprometimento radical com Cristo. Bonhoeffer destaca que seguir Jesus implica em transformar toda a vida do discípulo, integrando crença e ação.

Os dons espirituais são cruciais no discipulado. Eles fornecem as ferramentas necessárias para que os crentes possam ensinar, exortar e servir uns aos outros. Através dos dons, os crentes podem orientar novos discípulos e contribuir para seu crescimento espiritual. Dallas Willard, em “A Grande Omissão”, argumenta que o discipulado eficaz envolve a utilização plena dos dons espirituais. Ele enfatiza que, sem a prática e o desenvolvimento desses dons, o discipulado pode se tornar superficial.

Exemplos Práticos

No contexto da igreja, o uso efetivo dos dons espirituais pode assumir diversas formas. Por exemplo, aqueles com o dom de ensino podem liderar estudos bíblicos, enquanto quem tem o dom de hospitalidade pode criar ambientes acolhedores para novos crentes. Além disso, os dons de liderança são vitais para orientar comunidades inteiras na caminhada cristã. John Stott, em seus escritos, destaca que líderes dotados espiritualmente são essenciais para modelar a vida cristã e inspirar outros a seguir o caminho do discipulado.

Os dons espirituais e o discipulado são inseparáveis na vida cristã. Juntos, eles promovem o crescimento espiritual individual e comunitário, permitindo que a igreja funcione como o corpo de Cristo. Tanto a Bíblia quanto autores cristãos evidenciam que, quando os dons espirituais são usados corretamente, o discipulado se fortalece, refletindo a plenitude de Cristo na terra. Assim, é imperativo que os crentes busquem desenvolver e utilizar seus dons espirituais, contribuindo para o discipulado autêntico e o fortalecimento da igreja. Dessa forma, cada crente pode viver plenamente seu chamado, servindo a Deus e ao próximo.

A igreja orientada pelos dons precisa da liderança de pastores e demais membros com a correta visão dos planos de Deus para ela e sua relação com os ministérios orientados pelos dons. Você pode ser este líder chamado para um momento e uma tarefa tão especiais para a igreja.

O cumprimento da grande comissão implementado no coração da expressiva maioria da igreja não é apenas o sonho de líderes visionários, é o plano de Deus para nossos dias, cuja solução está em nossas mãos, revelada nas páginas das Escrituras. Membros conhecedores de seus dons espirituais e atuando em harmonia com eles, pastores cumprindo suas funções sem fugirem do foco, equipes ministeriais operando em harmonia, pequenos grupos dinâmicos e um consistente programa de discipulado. Este é o sonho e esta pode ser a nossa realidade. Depende muito de você.

 

 


Referências

  1. Idem, 191.

  2. Idem, 11.

  3. Rick Warren, 110.

  4. Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 111.

  5. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 102.

  6. Citado na palestra do Pr. Silvano B. Santos sobre discipulado e PG, Foz do Iguaçu, 05/05/09. A fonte não foi identificada.

  7. Russell Burrill, 83.

  8. Idem. 91.

  9. Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), v. 2, p. 402.

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