Listas Bíblicas dos Dons Espirituais 1

“Sigam o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia.” 1 Coríntios 14:1

A proposta deste capítulo é oferecer a relação dos dons espirituais citados na Bíblia de forma clara para que você os conheça e se identifique com aqueles que fazem parte de seu próprio arcabouço de dons.

As listas de dons apresentadas na Bíblia não se propõem a ser exaustiva ou final e, como isso se aplica a cada uma delas, a conclusão lógica é que a soma de todas as listas bíblicas também não pode ser considerada uma lista completa e definitiva. Assim, é correto afirmar que os dons mencionados na Bíblia são representativos da pluralidade e diversidade distribuída ao redor do mundo a toda a cristandade em todos os tempos.

Muito do que existe no mundo moderno não foi mencionado pela revelação bíblica, pois seus autores se limitaram à realidade percebida na igreja de sua época. Dons como música, hospitalidade e oração, não aparecem em nenhuma das listas do Novo Testamento, mas podem ser percebidos com grande facilidade em todas as igrejas modernas.

Como os dons foram distribuídos pelo Espírito Santo conforme as necessidades específicas das igrejas, podemos perceber diferenças entre as listas das igrejas de Éfeso, Corinto e Roma; realidade que nos serve como indício de que os dons disponibilizados para as igrejas de hoje podem diferir daqueles oferecidos às igrejas do primeiro século do cristianismo.

A insistente questão relacionada com a quantidade dos dons é respondida com sob duas bases. A primeira tem a ver com os dons que são mencionados de forma explícita nas principais listas do Novo Testamento, os quais, sem considerar repetições, são em número de vinte. Confirmando esse número, John Stott afirma:

“O Novo Testamento especifica pelo menos vinte, e o Deus vivo que ama a diversidade e é um doador generoso pode muito bem conceder muito, muito mais do que isto. Paulo afirma isto, repetindo com ênfase, ao falar do assunto, que, em contraste com o único Espírito, há “dons diversos”, “diversidade nos serviços” e “diversidade nas realizações” (1Co 11:4-6).”ii

A segunda base para quantificar os dons é mais complexa por considerar aqueles que são citados na Bíblia de forma implícita e aqueles que são percebidos na experiência da igreja ao longo dos séculos até hoje. Este será o tema do próximo capítulo.

Seguem as listas bíblicas de dons mencionados de maneira explícita, segundo a ordem em que aparecem nas principais referências do NT.

a) Romanos 12.6-8

  1. Profecia

  2. Ministério

  3. Ensino

  4. Exortar

  5. Contribuir

  6. Presidir

  7. Exercer misericórdia

b) 1 Coríntios 12.8-10

  1. Palavra de sabedoria

  2. Palavra de conhecimento

  3. Dons de curar

  4. Operações de milagres

  5. Profecia

  6. Discernimento de espíritos

  7. Variedade de línguas

  8. Interpretação de línguas

c) 1 Coríntios 12.28-31

  1. Apóstolos

  2. Profetas (13.2)

  3. Mestres

  4. Operadores de milagres

  5. Dons de curar

  6. Socorros

  7. Governos

  8. Variedades de línguas

  9. Interpretação de línguas

d) 1 Coríntios 13.2

  1. Profecia O texto cita outros dons, mas de maneira implícita.

d) Efésios 4.11

  1. Apóstolos

  2. Profetas

  3. Evangelistas

  4. Pastores

  5. Mestres

e) 1 Pedro 4. 10,11

  1. Fala, ou pregação

  2. Ministração ou ministério

Estes dons são citados por Pedro de maneira implícita, mas aparecem em outros textos, como já vimos, de forma explicita.

Definição de dons bíblicos

A seguir apresentaremos uma lista de dons espirituais a partir e na sequência das listas bíblicas de Romanos, 1 Coríntios, Efésios e 1 Pedro, desconsiderando a repetição de alguns desses dons. Para cada dom serão apresentadas: referências bíblicas, a palavra gregaiii correspondente e seus significados, além de descrições e comentários.

Não é nossa expectativa que todos concordem com as definições que apresentamos neste capítulo já que os conceitos relacionados com os dons espirituais diferem e às vezes, divergem entre as diversas denominações cristãs. Mais importante do que isso é que você conheça parte dos dons espirituais disponíveis, familiarize-se com eles e identifique aqueles que podem ser os seus próprios dons.iv

1. Profecia.

Referências bíblicas: Dt 13.1-5; 18;18-22; Mt 7.15-20; At 15.32Rm 12.6; 1Co 12.10; Ap 1.1-3; 19.10.

Palavra grega: profhteian [προφετειαν] significa falar em nome de alguém, em favor de outro, porta voz, representante, mensageiro.

O dom da apresentação da mensagem de Deus, declaração inspirada, pregação e mensagem inteligível falada ou escrita. A palavra profeta origina-se do hebraico nabî’, que significa “chamado” ou “alguém que tem uma vocação”.

O dom de profecia é a especial habilidade que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo para receberem e comunicarem uma mensagem imediata de Deus a Seu povo através de uma forma divinamente escolhida.

Em 1 Coríntios 14, o apóstolo Paulo faz uma longa exposição sobre a relevância do dom de profecia em comparação ao dom de línguas: “o que profetiza é maior do que o que fala em línguas (v. 5). Ele nos exorta a buscar os dons espirituais e enfatiza o dom de profecia: “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (v. 1). Conclui o importante capítulo dizendo: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar” (v. 39).

Christian Schwartz afirma que “este dom capacita cristãos a receber e comunicar uma mensagem de Deus para o Seu povo por meio do Espírito Santo.”vi

Como os demais dons, o de profecia não é concedido a todos os crentes, mas o Espírito Santo usa de Sua soberania para determinar a quem, de que forma e quando conceder e manifestar o dom de profecia.

Segundo Kornfield, ter o dom de profecia significa “receber e transmitir uma mensagem imediata de Deus por meio de uma palavra divinamente ungida para uma situação específica.”vii

Mesmo um estudo superficial da Bíblia revela o destaque que é dado ao dom de profecia em relação aos demais dons.viii Foi por meio deste dom que o próprio texto bíblico chegou ao alcance dos homens, quando “homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20, 21).

Citando Roy Naden, Birthe Kendel define esse dom como “falar em favor de Deus”.ix Em Romanos 6.12 o apóstolo Paulo orienta que o dom de profecia é concedido segundo a graça de Deus e deve ser exercido segundo a proporção da fé.

A relevância do dom de profecia fica evidente, por ser ele o único dom citado nas cinco principais listas do NT (Rm 12.6; 1Co 12.10, 28; 13.3,8; Ef 4.11. O dom de profecia sempre teve sua relevância na história do povo de Deus, ele sempre serviu como veículo de comunicação de outros dons como fé, conhecimento, sabedoria, ensinox. Assim, “os profetas tinham grande autoridade e prestígio por serem agentes por meio dos quais o Espírito Santo declarava a vontade de Deus ou revelava às igrejas acontecimentos vindouros.” xi

O período da teocracia em Israel foi marcado pela liderança espiritual do profeta e do sacerdote, somente depois do surgimento da monarquia os reis participaram da direção política e militar da nação.

Nos tempos apostólicos este dom tinha duas facetas. Uma era a transmissão de palavras de Deus para os homens, através de um profeta. Isto era um dom sobrenatural. Para que as pessoas pudessem discernir entre profetas falsos e verdadeiros o Espírito dava a outros o dom do “discernimento de espíritos”. Só o fato de existirem profetas que falavam por revelação implicava na existência de falsos profetas, como podemos verificar no Antigo e no Novo Testamento. Os cristãos neotestamentários não deviam desprezar a profecia, mas também tinham de testar todas as coisas. De acordo com 1Co 14:3 a segunda faceta da função do profeta era de edificar, instruir, consolar e exortar os crentes nas congregações locais.xii

O que explica ser o dom de profecia um dos mais propagados dons do Espírito é o fato de ele ser um dos principais “dons de nutrição (ao lado do dom de pastorear), com o qual Deus pretende construir a igreja e manter sua saúde espiritual.”xiii

Compreender a figura do profeta e seu papel junto ao povo de Deus ao longo dos séculos é de fundamental importância para que o ministério profético de hoje seja reconhecido e respeitado ao mesmo tempo em que o falso dom profético seja detectado e rechaçado pela igreja. Nas Escrituras, o profeta é “alguém que recebe comunicações de Deus e transmite o propósito das mesmas ao povo”. Os profetas não profetizavam por sua própria iniciativa. “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21).

No Antigo Testamento, a palavra profeta é geralmente tradução do hebraico nabi. Seu significado é exposto em Éx 7:1 e 2: […] O termo profeta, portanto, designa um porta-voz apontado por Deus. O termo grego equivalente ao hebraico nabi é prophetes, de onde deriva o nosso termo em português, profeta.xiv

Outra questão relevante acerca do dom de profecia é sua permanência em meio à igreja moderna já que um grupo de estudiosos argumenta que este dom, classificado como “dons de sinais”, cessou ao passar o período apostólico.xv

A própria palavra profética assegura a permanência do dom de profecia para a igreja remanescente. Joel (Jl 2.28,29) viu o dom atuando no contexto do final dos tempos e Pedro o citou (At 2.17,18) renovando a veracidade das palavras do antigo profeta. “E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do Meu Espírito derramarei sobre os Meus servos e Minhas servas naqueles dias, e profetizarão.”

João revela no Apocalipse que a igreja remanescente teria o dom profético manifestado em seu seio (Ap 12.17; 19.10). e o comentário de Ellen White é oportuno a este respeito:

“O apóstolo Paulo teve visões da glória do Céu. II Cor. 12:1-7. No duodécimo capítulo de I Coríntios ele dedica extensa consideração aos dons do Espírito que foram outorgados, não para uma época somente, mas “até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Ef. 4:13.xvi

E acrescenta:

“Pouco antes da segunda vinda de Cristo, muitos serão libertos das trevas do erro e da superstição. Mais uma vez a Terra deve ser iluminada com a glória de Deus. As puras verdades da Bíblia devem resplandecer. E neste tempo de iluminação celeste, assinalando a aproximação do fim dos séculos, deverão novamente manifestar-se na verdadeira igreja os dons do Espírito.”xvii

Atividades relacionadas: aconselhamento pessoal, orientação da igreja, produção literária, pregação pública.

2. Ministério ou serviço.

Referências bíblicas: Nm 4.24; At 6.1-7; Rm 12.7; 11.13; 2 Co 6.3; 9.12; 1Tm 3.8-13.

Palavra grega: diakonian [διαξονιαν] – serviço. O ministério daqueles que executam ordens de outros; contribuição; ajuda. No sentido litúrgico, se refere ao ofício dos diáconos, profetas, evangelistas e pastores.

O vocábulo grego diakonian [διακονιαν] é traduzido em muitas versões por ministério e isso está literalmente correto, mas a palavra serviço traduz melhor o sentido deste termo em relação ao dom espiritual pois diakonian tem dupla aplicação nesse contexto: serviço pastoral ou prático.

“Ho diakonon é o garçom que serve à mesa (Lc 22:26) e a mesma palavra é usada para o trabalho doméstico de Maria.”xviii

A palavra pode se referir ao dom específico do serviço, no sentido de alguém que está sempre disposto a usar seus recursos, inclusive tempo e dinheiro, para oferecer ajuda, suprindo a necessidade de outros, como no caso dos diáconos separados para “servir às mesas” a fim de deixar os discípulos livres para a pregação (At 6.1, 2). A experiência de Marta que “agitava-se de um lado para o outro, ocupada em muitos serviços” (Lc 10.40) também é um exemplo desta aplicação da palavra diakonian.

Em outro sentido, refere-se ao ofício exercido pelos cristãos que aplicam seus dons ao serviço da edificação do corpo de Cristo, como os pastores, evangelistas, professores, cantores e pregadores (1Tm 1:12; 2Tm 4:5), por exemplo.

Outros vocábulos gregos são traduzidos por serviço, mas seu significado não está relacionado diretamente com o foco deste estudo, xix como, por exemplo, o aspecto litúrgico. No texto da versão grega do Velho Testamento, a LXX ou Septuagintaxx, em 2 Crônicas 13:10 é dito que “temos sacerdotes, que ministram – leitourgiou – [λειτουργιου] ao Senhor, a saber, os filhos de Arão e os levitas na sua obra.”

“O dom de serviço é a capacidade especial que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo, a fim de identificar as necessidades não-satisfeitas envolvidas em alguma tarefa relacionada à obra de Deus, e fazendo uso de recursos disponíveis para satisfazer àquelas necessidades de ajuda, obtendo assim os alvos desejados.”xxi

Mediante este dom, o Espírito Santo capacita e estimula alguns cristãos a identificarem necessidades variadas, de caráter pessoal ou corporativo, e se disporem prontamente a atendê-las.

Outra definição enriquecedora que merece atenção:

“O Dom de Ajuda ou Serviço Atos 9:25-27; 1:24-26; 15:37-39 É a capacidade especial que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo, que consiste em investir seus talentos para atender às necessidades insatisfeitas de outros, sem esperar crédito ou reconhecimento algum.”xxii

Atividades relacionadas: diaconato da igreja, serviços diversos de atendimento às necessidades da instituição e de pessoas, pastores, professores, visitação, auxiliares de tarefas em geral.


Referências

  1. David Kornfield, Desenvolvendo Dons Espirituais e Equipes de Ministério (São Paulo, SP: Editora Sepal, 1998), 21; Christian A. Schwarz, O Teste dos Dons (Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999), 23; John Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1988), 81.

  2. John Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1988), 84.

  3. Para as palavras gregas serão usadas as fontes Bwgrkl. As principais referências bíblicas de cada dom serão citadas. A versão bíblica usada será, normalmente, a Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, exceto quando outra versão for indicada. A palavra grega, seu significado e sinônimos serão extraídos do BGM. Morphology and Barclay-Newman Greek Dictionary do CD-Rom Bible Works e do Dicionário de Grego-Português Português-Grego (Porto, Portugal: Porto Editora, 2004) em relação com a referência bíblica em estudo.

  4. James Zackrison, Dons Espirituais Chaves Para o Ministério (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, Lição da Escola Sabatina, primeiro trimestre de 1997), lição 10, p. 3.

  5. Christian A. Schwartz, As 3 Cores dos Seus Dons (Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 2003), 132.

  6. David Kornfield, Desenvolvendo Dons Espirituais e Equipes de Ministério (São Paulo, SP: Editora Sepal, 1998), 79.

  7. viii Ver: 1 Co 13:8; 14:6,12; 1 Tm 1:18; 4:14; 1 Ts 5:19,20; 2 Pe 1:21; Ap 1:3; 22:7. O estudo da identidade da Igreja Remanescente revela que este dom é uma das principais características e foi manifestado no ministério de Ellen G. White, cujos conselhos e escritos constituíram em uma fonte abalizada de orientação, conforto, instrução e correção para a Igreja, os quais apontam para a Bíblia como a única regra de fé e pratica para os cristãos (J1 2:28, 29; At 2:14-21; Hb 1:1-3; Ap 12:17; 19:10).

  8. ix Birthe Kendel, Meus Dons Espirituais (Apostila do Departamento do Ministério da Mulher da Associação Geral da IASD), 81. Ralph M. Riggs, O Espírito Santo (São Paulo, SP: Editora Vida, 1991), 119.

  9. Alan Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento (São Paulo: SP, Associação de Seminários Teológicos Evangélicos), p. 331.

  10. xii Billy Graham, O Espírito Santo (São Paulo, SP: Editora Vida Nova, 1994), 152.

  11. Roy Naden, Profetas na Igreja Local (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, Revista Ministério maio-junho de 2000), 27.

  12. dy Casa Publicadora Brasileira, Nisto Cremos em CD-ROM, 292.

  13. xv Para uma visão ampla da posição cessacionista recomendo a leitura de, Cessaram os Dons Espiritums? Wayne Grudem, org. (São Paulo, SP: Editora Vida, 2001).

  14. Ellen G. White, Vida e Ensinos (Tatuí SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 240.

  15. xvil Idem, 242.

  16. xviüi John R. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1988), p. 89.

  17. xix Como em At 13:2 e Hb 10:.11-leitourgan – descreve a atuação de um sacerdote que celebra ou ministra no serviço de adoração a Deus.

  18. Velho Testamento Grego dos setenta interpretes editada por Alfred Rahlfs, Stuttgard: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979

  19. od Peter Wagner, 228

  20. Arnaldo Henriquez, Os Dons Espirituais, Apostila (Brasília DF: Departamento de Mordomia da Divisão Sul-Americana da IASD, s.d.), 7.

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