16. Apóstolos.
Referências bíblicas: Mt 10:5; Mc 9:37; Jo 3:17,34; At 3:20; 8:14-25; 14:14; Rm 16:7; 1Co 12:28,29; 2Co 12:12; Gl 1:1; Ef 4:11.
Palavra grega: apostolous [αποστολουσ] enviado, mensageiro, delegado. Enviado para o cumprimento de uma missão.
Os doze discípulos foram apóstolos de Jesus (Mt 10:2; Lc 22:14; At 1:26; Ap 21:14), receberam seu chamado diretamente dEle (At 1:2) e foram testemunhas de Seu ministério, morte e ressurreição (At 4:33). Outros além deles também receberam esta titulação, a exemplo de Paulo de Tarso (2Co 12:11), Timóteo e Silas (1Ts 2:6,7), Matias (At 1:26), Barnabé (At 4:36; 14:14) e Andrônico e Júnia (Rm 1:1; 16:7). As Escrituras fazem menção de falsos apóstolos (2Co 11:13; Ap 2:2) o que dá a entender que outros homens além dos verdadeiros apóstolos tentaram adotar esta posição.
Existe uma ampla discussão em torno do apostolado bíblico, e nesta discussão três questões são pontuais: (1) Estava restrito ao período dos discípulos ou avança até nossos dias? (2) Trata-se de um cargo ou de um dom espiritual? (3) É o referencial bíblico para a moderna função pastoral?
Há um debate em torno do apostolado como função restrita a um pequeno grupo de privilegiadas testemunhas oculares e auriculares da ressurreição de Jesus e que receberam uma comissão especial do próprio Senhor. Segundo esta tese o apostolado não pode ser considerado um carisma, mas um cargo eclesiástico restrito ao período dos discípulos.¹
Outra vertente, em que se encontra a posição de John Sttot e Billy Graham, vê a questão do apostolado com três possibilidades:
“(Em primeiro lugar) no sentido geral que todos nós somos por Cristo enviados ao mundo, participando assim da missão apostólica da igreja (João 17:18, 20:21); neste sentido amplo todas nós somos ‘apóstolos’…. (Em segundo lugar) a palavra é usada pelo menos duas vezes para descrever ‘apóstolos das igrejas’ (2 Cor. 8:23; Fil. 2:25), mensageiros enviados de uma igreja a outra com incumbências especiais…. (Em terceiro lugar) o dom do apostolado, tão em destaque, deve se referir por isso a este grupo pequeno e especial que eram os apóstolos de Cristo’: os doze (Luc. 6:12,13) e Paulo (Por ex.: Gál. 1:1).”²
Segundo esta concepção o apóstolo, no sentido geral, é todo cristão enviado ao mundo para pregar, cumprindo uma função universal. No sentido secundário, seria um grupo de poucos crentes enviados de igreja em igreja com incumbências especiais e no último sentido seriam apenas os discípulos de Cristo e poucos personagens mais, como os citados acima.
A mais forte evidência de que o apostolado é contado como dom espiritual é que ele aparece em duas listas de dons do Novo Testamento. Em 1 Coríntios 12 o apóstolo Paulo está discorrendo sobre a unidade orgânica do corpo de Cristo, quando afirma que “a uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12:28). O estudo deste texto em conexão com os outros (1Co 12:4-10; Rm 12:4-8 e Ef 4:11,12) que se referem explicitamente aos dons espirituais e estabelecem listas desses dons, fortalece a argumentação em favor de serem o apostolado um dom espiritual também.
Assim, o apostolado moderno seria uma espécie de ministério que transcende aos limites da igreja local, como um ministro supervisor, departamental ou presidente de campo, com uma abrangência maior do que a dos ministros locais. A abrangência de um apostolado moderno se estende além dos limites da congregação local e atua em harmonia com organização da igreja hoje como o fariam os antigos apóstolos.
Ainda há quem sugira que o dom de apostolado se manifesta em um missionário atual no sentido secundário, se ele for um plantador de igrejas. Como um missionário ele avança em áreas ainda não conquistadas e estabelece novas igrejas ou dá assistência a congregações e pessoas estabelecidas recentemente em lugares longínquos. São líderes espirituais dedicados e desprendidos que têm um forte senso de missão e do seu chamado. Sua autoridade está fundamentada na Palavra de Deus, e em um chamado. Ele opera fiel à verdade que saiu a proclamar.
Acerca da palavra apóstolo O Novo Dicionário da Bíblia diz que ela aparece em mais de oitenta ocorrências no NT e acrescenta:
“No Novo Testamento é aplicada a Jesus como aquele que é Enviado de Deus (Hb 3:1), àqueles que foram enviados por Deus a pregarem a Israel (Lc 11:49), e àqueles enviados às igrejas (2 Co 8.23; Fp 2.25); mas, acima de tudo é aplicada de modo absoluto ao grupo de homens que mantinham a dignidade suprema na igreja primitiva.”³
A esta altura precisamos fazer distinção entre função de apostolado dom de apostolado. Enquanto a função pode ser determinada eclesiasticamente e pelos trâmites formais conhecidos mediante nomeação, investidura ou ordenação, o dom do apostolado é uma determinação do Espírito Santo o qual imprime na mente de pessoas que Ele escolhe um sentimento de necessidade de ir além dos próprios limites geográficos em busca de novas conquistas para o reino de Deus. Ele Faz o chamado, capacita e usa o indivíduo no cumprimento de Seu plano. O mundo já sentiu o impacto causado pela influência de tais pessoas movidas pelo Espírito!
Se o ofício apostólico cessou depois da morte dos primeiros apóstolos, o dom apostólico permanece vivo até hoje e se manifestará sempre que o Espírito Santo determinar.
Atividades relacionadas: evangelismo público, missão global, obra bíblica em geral, conquista de novos territórios, fundação de igrejas.
17. Socorros ou ajuda.
Referências bíblicas: Mc 2:1-12; Lc 10:38-42; At 1:24-26; 9:25-27; 15:37-39; Rm 16:1,2; 1Co 12:28; Fl 2:25; 1Pe 4:11.
Palavra grega: antilhyeis [αντιλεπσεισ] Ajuda, socorro, auxílio, beneficência. Presteza no atendimento ao necessitado.
“É a capacidade especial que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo, que consiste em investir seus talentos para atender as necessidades insatisfeitas de outros, sem esperar crédito ou reconhecimento algum.”⁴
Nas palavras de Peter Wagner pessoas como dom de socorro dedicam-se em “investir os talentos que tem na vida e no ministério de outros membros do corpo, capacitando assim a pessoa ajudada a aumentar a eficácia dos seus dons espirituais.”⁵
Socorro é o dom relacionado com a prestatividade para servir às necessidades dos outros principalmente no ambiente da igreja onde pessoas com outros dons poderão produzir muito mais com o apoio de quem tem o dom de socorro (também chamado ajuda ou apoio). Tais pessoas identificam necessidades e prontamente se dispõem a atendê-las colocando seus recursos nesse propósito. Geralmente são anônimas, mas o que se nota é que há uma grande diferença entre ter ou não pessoas assim em qualquer equipe ministerial.
“Este dom possibilita a milhares de leigos ajudar a propagar o reino de Deus, aconselhando, orando, exercendo funções administrativas na igreja e em organizações para eclesiásticas e testemunhando. Mas “socorros” também é serviço social, como ajudar os que são oprimidos por injustiça social, e cuidar de órfãos e viúvas. Significa preparar uma refeição para um vizinho doente, escrever uma carta de ânimo ou dividir o que temos com alguém que não tenha. Socorros é o dom de mostrar misericórdia. Inclui também a idéia de ajudar em algumas das atividades normais do serviço cristão, para que outros com outros dons possam estar livres para usá-los mais”⁶
Atividades relacionadas: Visita a enfermos, oração intercessora, aconselhamento, campanhas sociais, apoiar líderes sobrecarregados, serviços em favor de necessitados e de outros ministérios.
18. Governos ou administração.
Referências bíblicas: Ex 18:13-27; At 14:23; 1Co 12:28; 1Tm 3:1-7; Hb 13:17.
Palavra grega: kuberneseis [κιβερνεσεισ] governo, administração, liderança. Traduz a ideia de comandar, pilotar, guiar. “O nome pelo qual eram chamados os capitães de navios e hoje são chamados os pilotos de avião na Grécia.”⁷
O dom de governo ou administração serve ao corpo de Cristo de forma especial na medida em que oferece uma capacitação a alguns membros para liderarem administrando diversos setores e níveis da obra, de modo a levá-la a superar crises, conduzir processos e alcançar alvos.
“É a habilidade especial conferida por Deus a certos membros do corpo de Cristo para que possam entender com clareza as metas imediatas e o longo prazo de uma unidade particular (igrejas, missões, associações, uniões, divisões, escolas, colégios, instituições) do corpo de Cristo, desenvolvendo, planejando, organizando atividades efetivas para alcançar as metas.”⁸
Pessoas e instituições precisam de líderes. A igreja cristã está entre elas, e kuberneseis “indica provas de capacidade para ocupar uma posição de liderança na igreja.”⁹ Este dom tem se tornado mais necessário a cada época em que o corpo de Cristo vai sendo influenciado pelo secularismo moderno e o risco de perda da identidade e dos propósitos da igreja é cada vez maior.
“Kuberneseis parece ser, então, o dom de guiar ou dirigir outros, talvez, incluindo a capacidade de distribuir responsabilidades para partes do programa da igreja, ou a liderança de presidir uma reunião e “pilotar” com sabedoria os procedimentos de uma diretoria.”¹⁰
Administração eclesiástica é uma das matérias dos cursos de Teologia nos seminários mais modernos capacitando líderes para gerir os negócios da Obra, mas isso não nos isenta da necessidade de orar para que Deus levante mais pessoas com o dom de governos conferido pelo Espírito Santo como foi o Senhor Jesus Cristo, o exemplo mais perfeito de governador da igreja.
Atividades relacionadas: Liderança da igreja em geral em áreas que os outros dons da pessoa definam, presidir comissões e equipes de trabalho, pastores, dirigentes.
19. Evangelistas.
Referências bíblicas: At 8:5,6, 26-40; 14:13-21; 21:8; Rm 10:14,15; Ef 4:11 2Tm 4:5.
Palavra grega: euaggelistas [ευαγελιστασ] missionário, anunciador das boas novas, pregador do evangelho.
“Esse dom capacita cristãos a comunicar o evangelho a não-cristãos de tal forma que estes encontrem a fé e se tornem membros responsáveis da igreja”.¹¹
Todo cristão, a despeito de ter ou não o dom espiritual de evangelismo, foi chamado para fazer o trabalho de um evangelista (2Tm 4:5). O convite de Jesus é abrangente: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1:17); e a grande comissão (Mt 28:19,20) é universal. Além disso, todos os dons espirituais convergem para o cumprimento da missão de levar o conhecimento de Cristo e de Deus aos perdidos.
Todo aquele que nasceu no reino de Deus deve atender a essa grande tarefa de levar as boas novas aos perdidos, mas aos que foram agraciados com o dom de evangelização, uma porção especial de habilidades para tal ofício foi disponibilizada. Estes são proclamadores do evangelho da salvação em Cristo com um alto poder de convencimento e persuasão. De forma excepcional fazem convites e apelos, formam novos discípulos e conduzem pessoas a se tornarem comprometidas com Deus e Sua igreja
Atividades relacionadas: Visita a enfermos, oração intercessora, evangelismo pessoal e público, conferencistas, obreiros bíblicos, pastores.
20. Pastores.
Referências bíblicas: Mt 9:36; 25:32; 26:31; Mc 6:34; 14:27; Lc 2:8,15,18,20; Jo 10:2,10,14,16; Ef 4:11; 1Pe 2:25; 5:1-3.
Palavra grega: poimenas [ποιμένασ] pastor, prelado, pároco. Tem o sentido de ministrar ao povo de Deus.
O dom pastoral é um conjunto de habilidades que Deus concede a alguns membros do corpo de Cristo capacitando-os para ministrar ao povo de Deus num relacionamento a longo prazo, assumindo a responsabilidade pela saúde e maturidade espiritual das pessoas em uma comunidade religiosa tendo em mente o cuidado do rebanho e seu encaminhamento para o cumprimento do plano de Deus para aquela comunidade.
“Para que um homem seja um pastor de êxito, é essencial alguma coisa mais que o mero conhecimento adquirido em livros. O que labuta por almas, necessita de consagração, integridade, inteligência, operosidade, energia e tato. Possuindo esses requisitos, homem algum pode ser inferior; ao contrário, possuirá dominadora influência para o bem. Aqueles que consagram a Deus corpo, alma e espírito, receberão contínua provisão de forças físicas, mentais e espirituais. Os inexauríveis depósitos celestes acham-se à sua disposição. Cristo lhes concede o fôlego de Seu Espírito, a vida de Sua própria vida. O Espírito Santo desenvolve a máxima energia para operar no espírito e no coração. A graça de Deus dilata e multiplica-lhes as faculdades, e toda perfeição da natureza divina lhes vem em auxílio na obra de salvar almas.”¹²
Como líder de uma (ou mais) igreja local, “a responsabilidade do pastor é velar pelo rebanho, para que receba uma disciplina espiritual completa, na qual haja doutrina e exortação, estímulo e consolação, descanso na obra de Cristo em nos salvar e atividade no serviço,¹³
Convém fazer distinção entre função de pastor e dom de pastor. A função de pastor é uma grande honra e responsabilidade que alguns membros da igreja buscam mediante renúncia, preparo acadêmico, espiritual e treinamento. Estes se sentem igualmente chamados pelo Espírito Santo e certamente recebem capacitação espiritual para desempenhar sua função. São reconhecidamente vasos abençoados no ceio da igreja estruturando, acompanhando, corrigindo, treinando e oferecendo suporte espiritual para os membros.
Os membros que recebem o dom espiritual do pastorado atuam no círculo de suas igrejas locais oferecendo ajuda preciosa aos pastores “oficiais” no cuidado dos membros e de sua nutrição espiritual. São estes uma grande bênção não apenas para os membros das igrejas onde atuam, mas também para os pastores, que têm seu ministério apoiado e fortalecido pela atuação destes preciosos irmãos. Nada impede, entretanto, que alguns pastores por função também tenham o dom espiritual do pastorado.
Billy Graham afirma a esse respeito:
“Eu tenho certeza de que milhares de cristãos no mundo todo, que nunca serão pastores de igreja, têm o dom de pastor, que pode ser unido para ajudar o pastor da igreja em seu serviço. Os que têm o dom devem usá-lo o máximo possível, lembrando-se que se não o fizerem entristecerão o Espírito Santo. Muitos pastores de igrejas estão sobrecarregados; seria ótimo se alguém os ajudasse. Cada um de nós poderia uma vez perguntar de novo ao seu pastor em que pode ajudá-lo.”¹⁴
Todo pastor chamado pelo Espírito Santo é um sub pastor já que o Supremo Pastor é o Senhor Jesus (Hb 13:20; 1Pe 5:4). E tanto os pastores que atuam por força do ofício como os que receberam o dom espiritual devem se espelhar no Bom Pastor (Jo 10:10) e buscar nEle inspiração e metodologias para liderar a igreja com as ferramentas que Ele disponibilizou, especialmente os dons e o fruto do Espírito (Gl 5:22,23).
Os dons espirituais estão intimamente identificados como conceito bíblico de Igreja como o corpo de Cristo. O corpo inclui tanto Laos (leigos) e liderança. Cada membro recebe um ou mais dons que têm uma função essencial no corpo. Nenhum dom outorga a qualquer membro uma posição exaltada sobre os outros membros; entretanto, os que possuem dons de liderança recebem maior responsabilidade e maior credibilidade. Nesse contexto é que a liderança pastoral recebe uma ênfase contundente.¹⁵
Atividades relacionadas: Visita a enfermos, oração intercessora, aconselhamento, liderança da igreja, evangelismo, ensino da Bíblia.
Depois de observar esta lista parcial de dons espirituais podemos nos identificar com alguns deles e encontrar nosso lugar no corpo de Cristo; aquele posto do dever onde ministérios serão exercidos para a edificação da igreja.
Concluímos a série de dons mencionados de forma explícita nas Escrituras seguindo a sequência de dois livros de Romanos, 1 Coríntios, Efésios e 1 Pedro. No capítulo a seguir tentaremos dar o mesmo tratamento aos dons que são citados de forma implícita na Bíblia e a outros que não aparecem no texto bíblico, mas na experiência da igreja moderna ou são citados na literatura contemporânea.
Referências
-
Wayne Grudem, organizador, Cessaram os Dons Espirituais? (São Paulo, SP: Editora Vida, 2001), 163-165.
-
John Stott citado por Billy Graham em Os Dons do Espírito, 9.
-
J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1999), 95.
-
Arnaldo Henríquez, 8.
-
C. Peter, 226.
-
Billy Graham, Os Dons do Espírito, p. 8.
-
James Zackrison, lição 8, p. 5.
-
Adaptada de C. Peter Wagner, 157 e de Arnaldo Henriquez, 9.
-
John Stott, 89.
-
Ibidem.
-
Christian A. Schwarz, 116.
-
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatui SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 111, 112.
-
Donaldo D. Turner, 186.
-
Billy Graham, 17.
-
John W. Fowler, Ministério Pastoral Adventista (São Paulo, SP: Editora Tempos, 1997), 19.


