Sacerdócio Universal de Todos os Crentes
Cada cristão tem o seu chamado para ser um ministro.
- Edinaldo Juarez Silva
- Mestre em Teologia
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Quando pensamos no sacerdócio universal de todos os crentes, lembramos inevitavelmente que cada pessoa é chamada por Deus do domínio do pecado para o reino da graça. Isso acontece com um propósito especifico: torná-los futuros cidadãos e atuais agentes em favor do estabelecimento do reino de Deus. Já que esse reino será constituído de sacerdotes, o projeto de Deus para cada filho Seu é que cada um encontre o seu sacerdócio, o seu ministério no corpo de Cristo.
Também vós mesmos, como pedras que vivem,
sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo,
a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus
por intermédio de Jesus Cristo.
I Ped. 2:5.
Já vimos que a graça que salva do pecado é a mesma que salva da inutilidade do ponto de vista do reino de Deus. A graça salvadora também é graça capacitadora. A justificação pela fé em Cristo opera a salvação. Já a ação poderosa do Espírito Santo, entre outras coisas, opera a capacitação para o ministério no corpo de Cristo mediante os dons espirituais.
Cada cristão precisa atuar em harmonia com a capacitação do Espírito mediante os dons espirituais. Caso contrário, o reino de Deus acumulará sérios prejuízos. Essa lógica se fundamenta em um fato relevante: nenhuma pessoa será tão capaz, eficiente, produtiva e feliz atuando em um ministério à revelia de seus dons, quanto será se atuar em harmonia com eles.
Muita gente na igreja foi capacitada pelo Espírito Santo para uma determinada área. Mas passa grande parte da vida atuando em outra, somente por não conhecer o que está revelado acerca dos ministérios orientados segundo os dons.
Ministério e função sacerdotal
Alguns têm preferência por determinadas áreas como música, pregação e liderança, e decidem se envolver com elas sem sequer considerar “esse negócio de dons”. O resultado disso tem sido prejudicial a todos os envolvidos. Deus que planejou, investiu e capacitou os crentes para atuarem conforme os dons concedidos pelo Espírito. A igreja que sofre pela perda daquele potencial ministerial. O reino de Deus que acumula prejuízo por não contar com um serviço adequado a suas necessidades. A obra missionária em favor dos perdidos perde mão-de-obra qualificada. E o próprio crente não é edificado tanto quanto poderia se atuasse em harmonia com seus dons.
Ainda que as pessoas consigam algum resultado em um determinado ministério, mediante sua dedicação, esforço e inteligência, enquanto atuam em desacordo com os seus dons. Podemos afirmar com segurança que elas seriam muito mais eficazes se estivessem no lugar para o qual o Espírito Santo as comissionou, capacitou e dotou. Crer o contrário seria negar o poder do Espírito para dotar pessoas de habilidades especiais para o ministério cristão.
Cada membro do corpo de Cristo foi colocado ali com um propósito. Todo colaborador é admitido numa empresa para uma função especifica. Assim também, cada filho de Deus é recebido no corpo de Cristo para um ministério específico. Ninguém foi chamado para fazer nada, para ser mero assistente. A todos foi dado um oficio, todos são sacerdotes do reino de Deus. Todos receberam dons espirituais.
“Os talentos que Cristo confiou a Sua igreja representam especialmente os dons e bênçãos conferidos pelo Espírito Santo […] Nem todos os homens recebem os mesmos dons, porém a cada servo do Mestre é prometido algum dom do Espírito.”
A reforma e o sacerdócio universal de todos os crentes
O propósito de Deus com os dons espirituais é que cada cristão possa ser efetivamente útil aos interesses de Seu reino ao atuar em ministérios relacionados com estes dons. Por isso podemos afirmar que cada cristão precisa ter certeza de seu ministério, de sua função sacerdotal.
O conceito do sacerdócio universal de todos os crentes foi uma das grandes verdades bíblicas resgatadas pela reforma protestante do século XVI. No cerne desta questão estão dois propósitos muito importantes: (1) o propósito devocional da idéia do sacerdócio de todos os crentes, que é a preocupação de devolver a cada cristão, seu direito adquirido pelo preço do sacrifício de Jesus, de ter acesso direto ao Pai (sacerdócio) sem a necessidade de um sacerdote humano. E (2) o propósito funcional em que cada cristão é chamado a ministrar (ter um ministério) como servo em funções designadas por Deus mediante a distribuição dos dons espirituais.
Encontramos, portanto, dois aspectos relacionados com o conceito de sacerdócio de todos os crentes: o aspecto devocional e o aspecto funcional. Apenas para efeito didático nos referiremos ao aspecto devocional com a palavra sacerdócio e ao aspecto funcional com a palavra ministério.
Sacerdócio universal de todos os crentes e o chamado individual
Sacerdócio como vocação devocional é a responsabilidade que cabe a cada cristão de ministrar em seu próprio favor e por sua família no esforço de se colocar na presença de Deus diariamente para receber dEle o suprimento necessário de graça e poder para enfrentar as demandas da vida naquele dia. “Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado” (Hb 10:11). Este sacerdócio é o serviço religioso que toda pessoa convertida precisa fazer em seu próprio favor indo ao encontro de Deus e mantendo comunhão com Ele.
A ideia de um sacerdócio universal implica que todo crente foi chamado para algum tipo de ministério e é capacitado pelo Espírito. Todo sacerdote é ungido para oficiar. De igual modo o crente é capacitado para ministrar. Ninguém recebe o dom apenas para a satisfação pessoal.
Tal sacerdócio não acontece em termos egoístas, mas desdobra-se em favor de outros, ministra intercedendo em beneficio daqueles com quem temos contato: família, amigos, conhecidos, desconhecidos, mas em primeiro plano cabe a cada membro do corpo de Cristo ministrar por si mesmo.
O autor de Hebreus 10: 19-22 exorta você a entrar no Santo dos Santos e fazê-lo com ousadia. Essa linguagem seria muito estranha para um judeu do primeiro século pois ele sabia que somente o Sumo-sacerdote poderia fazer esse percurso até o Santíssimo do santuário terrestre, mas Paulo afirma que Jesus abriu um novo e vivo caminho através do vê, pelo seu sangue e carne.
Ele conclui o convite (v.21, 22) dizendo que “temos um grande sacerdote sobre a casa de Deus” estabelecendo as bases da confiança que ele propõe a seus leitores. O sacerdócio de Jesus no santuário celestial (Hb 6:19,20) dá garantias para o nosso sacerdócio terrestre, portanto podemos chegar “com confiança junto ao trono da graça” (Hb 4:16).
Ministério de todos os crentes.
Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.
A mensagem do sacerdócio de todos os crentes afirma que cada cristão é convidado de se aproximar de Deus por si mesmo e deve fazê-lo diariamente se quer obter o poder e a capacitação espiritual para sustentar um ministério efetivo.
Depois de atuar no sentido de ir e se colocar na presença de Deus, sem intermediário humano, para receber a porção de poder e sabedoria para cada dia, o sacerdócio a que cada crente é chamado a desempenhar, se vale dos dons espirituais disponibilizados pelo Espírito Santo para exercer seu aspecto funcional atuando dinamicamente em favor dos interesses do reino de Deus.
Sacerdócio ou ministério universal de todos os crentes também pode ser visto como função. O serviço de fortalecer o corpo de Cristo mediante a atuação em um ministério que o edifique e a missão de comunicar a mensagem intermediando entre Deus e o próximo, ministrando a este através dos dons espirituais. Neste sentido ministério de todos os crentes é a vocação funcional que cabe a cada cristão para operar em favor da igreja, para sua edificação, e em favor dos sem-igreja, para sua salvação.
Conclusão
Compreender essa suave, mas relevante diferença entre os dois aspectos da mesma verdade: o sacerdócio de todos os crentes, ampliará a nossa visão da grandiosidade do plano de Deus para cada um de nós. Somos sacerdotes e ministros do reino de Deus, chamados para oficiar em nosso favor, em favor da nossa família, da igreja e dos perdidos. Esse chamado é universal, pois a todos é dirigido, e cada cristão precisa compreender que ao aceitar os benefícios da graça precisa se submeter ao chamado para o ministério sacerdotal no reino de Deus, que também é concedido pela graça.
O ministério orientado pelos dons é a arte de colocar as pessoas certas nos lugares certos, pelos motivos certos para conseguir os melhores resultados. Isso faz a pessoa se sentir mais motivada e dependente do Espírito, produzindo crescimento espiritual e corporativo.
O reino de Deus restaurado será reino de sacerdotes, não de cidadãos comuns, e, todo aquele que almeja ser contado entre os remidos, precisa assumir seu papel sacerdotal aqui mesmo enquanto cidadão desta Terra. Precisa adquirir experiência em ministrar no corpo de Cristo em funções que o edifiquem, precisa atuar diariamente como sacerdote de si mesmo e de sua família entrando com intrepidez no santo dos santos (Hb 10.19), junto ao trono da graça (Hb 4.16). Buscque voce mesmo sua experiencia com o sacerdócio universal de todos os crentes.
Leia também:
Da inércia social para a inércia missional?
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Ellen G. White, Parabolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 327
Marcos De Benedicto, “Tempo do Espírito” (Tatuí, SP: CASA, Revista Ministério, novembro-dezembro de 2004), 7.
Idem, 5.