Liderando a Igreja com os Dons Espirituais

Oficina de Dons

O sonho de todo líder de igreja

Equipes de trabalho entusiastas e produtivas, lideranças multiplicadoras atuantes e comprometidas, e membros engajados em ministérios efetivos num ambiente de unidade e de identificação com Cristo; é o grande sonho do líder cristão. “Todo pastor sonha em ver a igreja inteira mobilizada”, vê-la cumprindo a sua missão tanto na dimensão global quanto em seus compromissos locais.

O grande desafio, neste contexto, é conseguir agregar, motivar, capacitar e conduzir os membros da igreja na vivência de tal experiência de serviço na causa de Deus, num tempo em que fortes correntes de secularismo e relativismo agridem as mais sólidas estruturas desta entidade local e institucional.

Tais correntes têm caráter desagregador, separando as pessoas de Deus e do Seu foco para elas. Neste cenário “a grande tragédia é que um imenso número de cristãos ou não estão envolvidos de jeito nenhum ou não estão adequadamente envolvidos em qualquer tipo de ministério por Cristo ou Sua igreja.”

 

Uma proposta de solução

A solução desta problemática estará cada vez mais perto na medida em que houver uma aproximação do ideal de restaurar as pessoas que compõem a Igreja de Deus e ao mesmo tempo coloca-las nos lugares para os quais o Espírito Santo as capacitou para estar.

O modelo dos ministérios orientados segundo os dons tem como essência o posicionamento mais produtivo e adequado de todos os crentes, os quais são os recursos humanos disponíveis na igreja. Vale lembrar que qualquer ministério orientado segundo os dons depende do Espírito Santo para se desenvolver tanto quanto para existir, porque Ele é O doador e distribuidor dos dons segundo a Sua soberania.

Os Recursos humanos da igreja são as pessoas em suas competências. Quando seu posicionamento em postos de serviços contempla a dotação que cada um recebeu do Espírito Santo para atuar em determinada área, o resultado é quantificado na motivação e satisfação daquele que serve e qualificado no resultado do serviço que prestam à igreja. Daí inicia-se o processo de aproximação daquele quadro tão sonhado e, ainda tão pouco experimentado: vidas restauradas – vidas produtivas.

 

Oficina de Dons

 

Desdobramento psicológico.

Não parece certo pensar que a única razão para o fato de tantas pessoas não se envolverem na missão da igreja seja a falta de compromisso. Muitos cristãos estão convencidos de que não foram chamados para um ministério especifico, portanto não têm nenhuma contribuição a dar no corpo de Cristo. Esse problema, além de sua vertente missiológica também contempla o aspecto psicológico.

Existem pessoas na igreja sofrendo com seu sentimento de inutilidade. Sua auto-estima está em baixa e pensam que não há um chamado para elas a não ser para sentar, assistir e dizer um acanhado amém, de vez em quando. Não crêem que foram dotadas de capacitações úteis e relevantes para o corpo de Cristo. Ficam observando os outros atuarem e pensam: “Que coisa! Há tantas pessoas talentosas na igreja e eu estou aqui, sentado fazendo quase nada. Não devo ter utilidade nenhuma mesmo”.

Não podemos nos enganar, muitos pensam assim mesmo, mas não é esta a proposta de Deus para a vida de nenhum de seus filhos. Ele nos chama a todos para sermos indivíduos úteis e relevantes quanto aos interesses do Seu reino. Ninguém foi chamado do reino do pecado e transferido para o reino da graça para ser um mero assistente ou expectador dos ministérios alheios, mas para atuar efetivamente no serviço em favor de seus semelhantes e para a glória de Deus.

O mesmo Espírito que nos garante a certeza da salvação pessoal, nos assegura de nosso valor pessoal e nos convence do quanto somos especiais para os planos de Deus; desenvolvendo e fortalecendo nossa auto-estima.

O sentimento de pouco valor pessoal de quem não encontrou seu lugar no corpo de Cristo logo abre espaço para outro distúrbio emocional: o sentimento de culpa de quem não se vê inserido em nenhuma equipe ministerial.

O raciocínio lógico é que se não há o que fazer além de observar os outros, “se não fui capacitado para nada além de mero expectador, deve ser porque sou indigno e miserável mesmo; o que me impede de receber a bênção que toda essa gente recebeu”.

Não é o desejo de Deus que nenhum de seus filhos viva sob essa sombra. Ele nos capacitou com dons espirituais para que encontremos nosso espaço ministerial e utilidade no corpo de Cristo.  Todo cristão que buscar com zelo seus dons espirituais encontrará antídoto para o mal da inadequação ou mesmo da inutilidade e estará livre de distúrbios emocionais relacionados com sua atuação na igreja, seu lugar no corpo de Cristo.

A função primária do pastor/líder

Em meio aos desafios da liderança religiosa em nossos dias, o líder/pastor precisa saber estabelecer prioridades para conseguir alcançar os propósitos mais relevantes de seu trabalho. Tarefas primárias precisam ser identificadas e devem receber a maior atenção em detrimento das demais. Somente assim ele conseguirá desempenhar bem suas reais atribuições. O que será apresentado sobre as prioridades do pastor se aplica também aos líderes à frente das igrejas locais.

A tarefa primaria do pastor, segundo as Escrituras, é treinar ou equipar os membros para o desempenho do seu ministério. Muito do tempo do pastor deveria ser passado em ajudar os membros a descobrirem o seu lugar no ministério em harmonia com os seus dons espirituais.

Entre experientes analistas do tema do crescimento de igreja há uma certeza: “A Bíblia era bem clara em dizer que o trabalho do pastor era equipar os membros para o ministério”.[1]

Um programa de ministério orientado segundo os dons estabelece um ponto de equilíbrio entre as necessidades da instituição e das pessoas envolvidas. Se por um lado o membro deve ser priorizado em sua necessidade de desenvolver seus dons em ministérios adequados, por outro ele deve ser mobilizado para o serviço, pois ministério é serviço. Assim como a realização pessoal do membro deve ser levada em conta, o cumprimento da missão da igreja também tem relevância no programa dos ministérios dos dons espirituais. Da mesma forma que a satisfação do membro é vista como fator preponderante, sua eficácia não pode ser olvidada. Portanto, uma visão surpreendente surge: igreja e membros, instituição e pessoas; todos crescendo da forma como orientou o Espírito Santo. Isso se harmoniza com o que o Apóstolo Paulo descreveu na epístola aos Efésios: “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (4:12).

 

O propósito do ministério pastoral

O pastor e todo aquele que lidera pessoas na igreja, deve estabelecer uma prioridade em seu ministério: a maturidade espiritual e funcional dos membros da igreja. Por maturidade espiritual entendemos a maturidade espiritual, a santificação e a experiência do batismo do Espírito Santo, que é resultante da busca diária que cada um faz de intimidade com Deus e identificação com Cristo. Já a maturidade funcional está relacionada a uma experiência genuína de discipulado, no exercício de ministérios dinâmicos orientados segundo os dons espirituais e focados no cumprimento da Grande Comissão. Isso significa dinamizar todo o potencial dos recursos humanos da igreja, o que dependerá da própria maturidade do pastor/líder, tanto espiritual quanto funcional e de sua capacidade de restaurar o seu pessoal à melhor performance que puderem alcançar e treiná-los para que eles desempenhem o ministério (ou os ministérios) para o qual foram dotados pelo Espírito Santo.

Sabendo que o trabalho mais importante que pode realizar é “liberar pessoas para o ministério” o pastor deve focalizar este alvo e persegui-lo. Não é seu papel, desempenhar os ministérios que a igreja precisa para crescer, mas mobilizar os membros na descoberta da função ministerial de cada um dentro do corpo de Cristo. Assim ele estará oferecendo à igreja a melhor contribuição que poderia dar. Muito melhor do que se estivesse tentando realizar a obra sozinho.

Oficina de Dons

Falando diretamente para pastores Ellen White disse:

Não é tarefa do pastor fazer o trabalho do ministério, mas sim treinar os membros para realizarem a obra dos seus ministérios respectivos. É verdade que o pastor […] realiza um ministério. Ele dá estudos bíblicos, aconselha, visita, etc. Mas sempre que o faz, está agindo como um leigo e não como pastor. O pastor é pago para treinar os membros. Se ele não está a fazer isso, então, biblicamente, não está a fazer o seu trabalho.

Auxiliar os membros na descoberta de seus dons espirituais terá grande importância no ministério dos pastores e dirigentes de igrejas voltadas para os ministérios dos membros.

Uma vez que os dons espirituais definirão o direcionamento que as equipes de obreiros voluntários (equipes de ministérios) da igreja deverão tomar, será imprescindível para a manutenção das funções básicas dessa igreja saber, com clareza, quais dons estão disponíveis em seu meio. Descobrir que lastro de dons o Espírito Santo proveu para esta igreja, através de seus membros será fundamental para que ela possa caminhar a passos largos em direção ao cumprimento de seu ministério. Daí a importância do líder local e o pastor se voltarem para um programa efetivo de auxílio na descoberta dos dons de cada membro da igreja.

Sempre que um pastor dá estudos bíblicos, visita, telefona para os hospitais ou realiza qualquer outra espécie de ministério, está a fazer o trabalho dos leigos e não o trabalho do pastor. É claro que o pastor não é contratado para realizar um ministério. Essa não é a sua função, mas a função dos leigos. Mas o pastor realiza um ministério – dá estudos bíblicos, visita, telefona para os hospitais. Porquê? Porque o pastor também é um leigo, e como leigo, ele deve realizar o seu ministério como parte do povo de Deus. Mas ele realiza esse ministério não porque seja um clérigo, mas porque é, antes de tudo, um leigo. […]O trabalho do pastor é manter as ovelhas em boa forma, para que elas possam produzir ovelhas. Se o pastor cuida realmente do rebanho, ele treinará os seus membros para realizarem o ministério que lhes compete.

A maior preocupação do pastor não será o cuidado dos membros, no sentido de acompanhá-los pessoalmente em cada luta que enfrentam, mas a sua restauração espiritual e capacitação, o que representará a maior assistência que o membro poderá receber do ponto de vista pastoral. Ele estará ensinando as pessoas a pescar ao invés de ofertando-lhes o peixe. “Os que já conhecem a verdade se tornarão mais fracos, se nossos pastores gastarem com eles o tempo e os talentos que deveriam dedicar aos não convertidos”.

Todos os que chegarem para fazer parte do corpo de Cristo, saberão que não existe cristianismo sem discipulado. Ser cristão é a mesma coisa que ser um discípulo, um servo, um ministro, pois assim como não existe cristão sem dom não existe cristianismo sem ministério.

Provavelmente o próprio ministério de cada líder religioso/pastor será revigorado quando ele atuar efetivamente da forma como a Palavra de Deus o orienta: voltado para os dons espirituais objetivando o ministério de todos os crentes, formando discípulos para o cumprimento da Grande Comissão, no poder do Espírito Santo.

A natureza da igreja e de sua obra no mundo tem como fundamento a responsabilidade individual de cada membro do corpo de Cristo. Cada cristão é convidado a descobrir seu lugar na dinâmica da vida da igreja bem como no lugar onde ele vive e está inserido porque este será o seu espaço para desenvolver o seu ministério.[1]  Neste cenário o pastor surge com um papel de múltiplas funções todas de extrema importância: (1) Restaurar o seu “rebanho” à sua melhor condição a fim de explorar o máximo do potencial de que dispõem; (2) Auxiliar os membros na identificação de seus dons; (3) Treiná-los, visando o aperfeiçoamento de suas competências para o serviço do ministério; (4) Organizá-los em equipes de ministérios eficazes e, (5) Facilitar a abertura de espaços para o desenvolvimento de novos ministérios dentro e fora da igreja.

Quando a restauração e a capacitação de cada membro for o foco do ministério veremos o impacto positivo dessa dinâmica transformando a atuação dos membros, líderes e dos próprios pastores e levando-os a experimentar a concretização do sonho de uma igreja dinâmica, comprometida e espiritualizada sob a regência do Espírito Santo.

 


 

David Kornfield, Desenvolvendo Dons Espirituais e Equipes de Ministérios (São Paulo, SP: Ed. Sepal, 1998), 7.
Aubrey Malphurs, Planting Growing Churches for The 21st Century, 152
Russell Burrill, Revolução na Igreja (Almargem do Bispo, Portugal: Publicadora Atlântico S.A., 1999), 111.
Rick Warren, Uma Igreja com Propósitos (São Paulo, SP: Editora Vida, 1998), 472.
Russell Burrill, 107.
Dennis Smith, O Batismo do Espírito Santo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 28, 49.
Restaurar é a palavra mais adequada neste contexto ao se levar em conta a realidade de que todos os membros do Corpo de Cristo foram dotados pelo Espírito Santo de dons capacitadores e precisam apenas descobrir a competência que existe latente em si mesmos. Precisam conhecer seu potencial e explorá-lo em beneficio da Causa de Deus.
Neste aspecto, seria enriquecedor ler a descrição que Rick Warren faz de sua experiência de “renunciar ao ministério”. Ver: Uma Igreja Com Propósito, págs., 471, 472.
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 50.
Russell Burrill, 37.
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), v. 7, pág. 18.
Rex Edwards, Every Believer a Minister (Boise, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1979), 21.
Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

About Author
Willaim Wright

Voluptas feugiat illo occaecat egestas modi tempora facilis, quisquam ultrices.

Recent posts
Follow us on